Violência e adolescência

                

Geração do desinteresse. De quem é a culpa? Dos pais ou dos filhos?

É provável que eu esteja raciocinando sob um ponto de vista elitista, capitalista e urbano/cosmpolista. No entanto, este é o cenário em que vivemos e em que estas crianças estão sendo inseridas e lógicamente, dentro do qual precisam se adequar. É o que temos para o momento.

Impressionante como as pessoas colocam filhos no mundo, mais impressionante ainda é como não são capazes de criá-los e de dar-lhes um mínimo de educação para o convívio em sociedade.

Falar da realidade escolar de escolas públicas é complexo: alunos de sexto ano (antiga quinta-série) chegam às escolas sem qualquer tipo de “traquejo” que os prepare para o universo escolar de maneira a conviverem com os outros alunos e com a comunidade escolar em geral. Verdade seja dita, muitos deles são heróis apenas por estarem vivos.

Neste universo, neste mundo em que eles vivem, a maioria das crianças de 10 ou 11 anos resolve tudo, desde os menores problemas, na base do grito, da brutalidade e dos palavrões. As meninas, mesmo as mais jovens, andam extremamente pintadas (maquiadas seria exagero) e a maioria delas discorre sobre sexo de maneira a deixar muita balzaquiana no chinelo. Isso é reflexo da educação que recebem (ou não) em casa? Provavelmente. Entretanto, esta resposta poderia parecer a velha e furada teoria do determinismo.

Mas o que esperar de crianças que em 10 anos de vida jamais receberam limites, que em toda sua breve vida viram pais, mães, irmãos, vizinhos, vivendo de maneira violenta? Meninas que, aos 10 anos, já viram suas jovens mães trocarem de “namorido” uma dúzia de vezes e que passam a achar que o ideal de vida de uma mulher é encontrar um homem pra viver junto. A maioria destas crianças não se interessa pela escola, pelo que ela é – um local de aprendizado sistematizado e de chances de crescimento futuro; – para elas, regras foram feitas para serem descumpridas, respeito é coisa de velho e ética é coisa de bobos.

De quem é a culpa desse desinteresse todo? Das novelas que mostram histórias de sucesso sem esforço? Da indústria cultural que vende moda, marcas, modelos e mensagens de como se dar bem na vida acima de tudo e de todos? Ou das famílias que simplesmente fazem crianças e as deixam se virarem sozinhas? Quais respostas seriam satisfatórias e poderiam realmente ser levadas a sério? Não, não sei a resposta, mas acredito que seja um somatório de tudo isso.

Bem, ok, isso vai paracer um desabafo e fiquei imaginando uma daquelas crônicas de Luis Fernando Veríssimo, em que no final, tudo acaba virando um monte de risadas. Enquanto escrevo isso, fiquei imaginando o futuro de cada um, e vi, naqueles que faziam as atividades em sala  e que me olhavam atravessado, a raiva contida e a vontade de me esganar. Isso me fez voltar no tempo e pensar em meus tempos de estudante, da minha quinta-série, quando apenas um olhar mais duro de um professor me fazia gelar, ou, se um professor chamasse minha atenção uma vez, apenas uma vez, creio que eu me transformaria em um grande tomate, vermelho e maduro. Hoje em dia, um professor pode chamar a atenção de um mesmo aluno quatro ou cinco vezes e talvez na quinta tentativa, o aluno entenda o recado. Eu disse talvez.

O futuro que (pre) vi para estes alunos é feio, sem expectativas ou perspectivas e pobre. Pobre em todos os sentidos, cultural, espiritual e monetário. E, no final das contas, quando eles finalmente abrirem os olhos, se é que o farão um dia, perceberão que a vida passou, a juventude se foi. As meninas, a maioria pelo menos, terá uma penca de filhos antes de poder entender que desperdiçaram chances maiores e melhores. Os meninos, aqueles que terminarem os estudos, traçarão caminho semelhante ao das meninas (os que não morrerem cedo, ou que não entrarem no mundo do tráfico/contrabando o que dá na mesma coisa).

Há algo de muito errado nessa sociedade que não enxerga, que não se mobiliza e não se comove com o futuro. O que me faz pensar no caminho que estamos trilhando são estes meninos e meninas, de 10, 11 anos, que daqui a 30, 40 anos governarão (ou não) e terão em mãos as rédeas do país e de nossas vidas. Espero estar enganada e sendo pessimista, mas o futuro que os governantes estão construindo é mesmo muito feio.

O desinteresse dos jovens brasileiros pela “educação” que o governo oferece é apenas resultado de causa e efeito. O discurso da meritocracia é falido, não se pode exigir de alguém que não teve oportunidades o mesmo que se exige de quem nasceu em um lugar com perspectivas de crescimento pessoal e educacional.

Acho mesmo que só deveria ser permitido ter filhos a quem respondesse um questionário extenso e depois de aprovado, assinasse um termo de responsabilidade, com punição prevista em caso de descumprimento dos termos do documento.

Das duas uma: ou este mundo melhoraria (e muito), ou a raça humana se extinguiria.

Qualquer das duas alternativas, no momento, me parece melhor do que o futuro que (pre)vejo.