sábado, 2 de novembro de 2013

13 curiosidades sobre Drummond

POESIA

13 curiosidades sobre Carlos Drummond de Andrade

Faces que talvez você não conheça de um dos mais famosos poetas brasileiros

29/10/2013 17:11
Texto Bruno Teixeira
Educar
Foto: Bruno Agostini
Foto: Carlos Drummond de Andrade
Drummond é um poeta como muito mais do que sete faces
 
Quem passa pela orla de Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro, vê uma estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade. Ele está sentado em um banco, com as pernas cruzadas, e de óculos - isto é, se ninguém tiver roubado pois até março deste ano, haviam tirado as hastes do poeta oito vezes. Drummond está de costas para o mar. Ele raramente fica sozinho. Tiram foto, sentam, conversam, pedem conselhos. Drummond era muito ligado aos amigos - talvez não se importe, aliás, até goste das visitas. Mas o poeta não gostava de aparecer. Dizia que tudo o que tinha a dizer já estava em sua obra.
Raramente dava entrevista e se deixava ser fotografado. "Como a cara que Deus me deu não é das mais simpáticas, e costuma ficar ainda pior quando fotografada, costumo fugir das objetivas como o diabo foge da cruz", contou a Humberto Werneck em entrevista em VEJA (Editora Abril), de 1977. Mas quem diria que o poeta gauche (tímido) adorava passar trotes aos amigos? Passava a mão no telefone e ligava. Imitava outra voz e os enganava. Drummond é um poeta como muito mais do que sete faces. Deixou uma obra extensa e uma certeza: de que a poesia não precisa ser difícil, ela pode ser lida à beira mar, como quem caminha com destino a um lugar desconhecido. Conheça algumas curiosidades sobre o poeta:
1. Nasceu em Itabira, Minas Gerais
"Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira", escreveu Drummond em Confidência do Itabirano, poema da obra Sentimento do Mundo (1940). A cidade, no interior de Minas Gerais, fica a 110 km de Belo Horizonte, capital do estado. Na região está a maior mina de minério de ferro a céu aberto do mundo. "Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas." (Confidência do Itabirano, CDA). Em 1942, Itabira também viu nascer a Vale Do Rio Doce - a segunda maior minerado do mundo e maior produtora mundial de minério de ferro. Mais de 90% da economia do município, direta ou indiretamente, giram em torno da companhia. A Fazenda do Pontal, que pertenceu à família do poeta, foi comprada pela empresa. Itabira aparece diversas vezes na obra de Drummond - ora nos poemas que relembram a infância, ora nas comparações da vida da grande cidade (Rio de Janeiro) com o mundo onde ele cresceu (Itabira). "Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro." (Confidência do Itabirano, CDA).
2. Foi expulso do colégio
Quando tinha 15 anos de idade, Drummond ingressou como aluno interno no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo (RJ). Lá publicou seu primeiro texto, em 14 de abril de 1918, no jornal do colégio. Um ano depois, foi expulso por insubordinação mental, como os padres justificaram. O poeta teve de deixar o colégio durante a madrugada, sem se despedir de ninguém. "Não tenho trauma, não. Já falei tanto mal dos padres que me expulsaram, já esculhambei tanto que hoje estamos quites", disse o poeta ao jornalista Geneton Morais, no que seria a última entrevista de Drummond e depois seria transformada em livro, o Dossiê Drummond (Editora Globo). Drummond se graduou em Farmácia, mas nunca exerceu a profissão.
3. Teve um desentendimento com Mário de Andrade
Em 1924, Carlos Drummond de Andrade, na época com 22 anos, publicou o livro Os 25 poemas da Triste Alegria, artesanalmente. Mostrou a obra para poucas pessoas, durante a vida. Um dos sortudos foi o poeta Mário de Andrade, que viu o livro em 1926. Mário respondeu a Drummond fazendo criticas pesadas. "O poema Momento Feliz é a coisa pior deste mundo", comentou o poeta paulista. Quando se encontraram, anos depois, em um restaurante no Rio de Janeiro, Mário, animado, recebeu Drummond de braços abertos. "Carlos!", disse. Drummond recusou o abraço e deu um aperto de mão: "Como vai, tá forte?". Drummond não estava magoado, apenas era tímido. Em 1982 o poeta mineiro publicou as cartas que trocou com o amigo paulistano, no livro A Lição do Amigo - Cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade (Editora Record). No livro A Rosa do Povo (1945), Drummond escreveu o poema Mário de Andrade Desce aos Infernos: "O meu amigo era tão/ de tal modo extraordinário,/ cabia numa só carta". No segundo semestre de 2012, a Cosac Naify publicará uma edição fac-similar de Os 25 Poemas da Triste Alegria.
4. Trabalhou no edifício símbolo do modernismo brasileiro
O poeta modernista foi, por mais de 40 anos, funcionário público e na maior parte desse tempo, trabalhou com seu amigo de infância, Gustavo Capanema - que ocupou, entre outros cargos, o Ministério da Cultura e da Saúde Pública, de 1937 a 1945. Foi justamente durante esse tempo, que Drummond acompanhou a construção do edifício que seria a sede do MEC, na década de 1940. Este edifício, hoje conhecido como Palácio Gustavo Capanema, é o símbolo do modernismo brasileiro. O projeto foi feito por uma equipe formada, entre outros, por Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Afonso Eduardo Reidy, Burle Marx e Le Corbusier, importantes nomes na arquitetura mundial. Drummond é um dos nomes mais consagrados da poesia modernista, que se categoriza, entre outras coisas, por seus versos livres e a temática mais ligada ao social.
5. Foi jornalista
Durante toda a vida, o poeta Carlos Drummond de Andrade teve uma relação muito próxima com o jornalismo. Trabalhou, por exemplo, como repórter no Correio da Manhã. "A única vocação que tive foi a de jornalista, e não a realizei plenamente", disse em entrevista ao jornalista Zuenir Ventura, nas Páginas Amarelas em Veja, de 1980. Drummond também foi cronista. "O jornalismo é uma forma de literatura. Eu, pelo menos, convivi - e mil escritores conviveram - como uma forma de jornalismo que me parece muito afeiçoada à criação literária: a crônica", contou o poeta ao jornalista Geneton Morais. De outubro de 1969 a setembro de 1984, escreveu crônicas no Jornal do Brasil. Escrevia às terças, quintas e sábados. Drummond também escreveu contos. Publicou, ao todo, 20 livros de crônicas e contos.
6. Traduziu músicas da banda The Beatles
A revista Realidade (Editora Abril) trouxe, na edição de março de 1969, seis músicas da banda britânica The Beatles traduzidas por Drummond. Todas elas fazem parte do The White Album, lançado no final de 1968, com 30 músicas. As canções traduzidas são: Ob-La-Di, Ob-La-Da; Piggies; Why don't we do it in the road?; I Will; Blackbird e Happiness is a warm gun. Durante sua carreira, Drummond também traduziu diversos livros para o português. Autores como Marcel Proust, Balzac e García Lorca foram alguns dos autores estrangeiros que o poeta traduziu.
7. Inspirou samba de Martinho da Vila
A Rosa do Povo (1945) está entre os livros mais importantes de Carlos Drummond de Andrade. Nele, o poeta escreve versos sobre a Segunda Guerra Mundial e seus milhares de mortos. Em 1976, o sambista Martinho da Vila gravou um disco, com 11 músicas, com o mesmo título do livro. A segunda faixa, João e José, uma parceria de Martinho com João Nogueira, faz relações diretas com a obra de Drummond: "Não tá mole não, José. Esse mundo louco. A televisão mostra sempre um pouco. Bala de canhão e bomba de troco [...] O nosso sambão é Rosa do Povo". Martinho da Vila musicou também o poema Sonho de um sonho, do livro Claro Enigma (1951).
8. Era fã de Chico Buarque: "nem é preciso dizer"
"Gosto de Noel, de Caetano, de Gilberto Gil. E também do Tom Jobim. É difícil dizer assim de cabeça, mas tem muita gente boa", disse Drummond em entrevista ao jornalista Zuenir Ventura. "Gosto de Chico Buarque, nem é preciso dizer, com quem me sinto muito identificado." Chico Buarque, em 1975, escreveu o musical Gota D´Água, com Paulo Pontes. Uma das músicas, que ficou muito famosa depois, é Flor da Idade - "Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava..." - uma referência direta ao poema Quadrilha, de Drummond: "João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria...".
9. Foi tema de samba-enredo
No ano em que completaria 85 anos, Drummond foi homenageado pela Estação Primeira de Mangueira com o samba-enredo Reino das Palavras. "Mangueira, de mãos dadas com a poesia. Traz para os braços do povo este poeta genial: Carlos Drummond de Andrade", começa a música. Naquele ano de 1987 a escola de samba foi a vencedora do carnaval carioca - só voltaria a ganhar 11 anos depois. "Na ilusão dos meus sonhos, achei o elefante que eu imaginei", canta o enredo no refrão, uma alusão ao poema O Elefante.
10. Morreu doze dias depois da filha
Maria Julieta, filha única de Drummond, tinha 57 anos quando morreu de câncer generalizado, em 1987, no Rio de Janeiro. Aos 84 anos, o poeta enterrava pela segunda vez um filho. Em 1927, Drummond, com 25 anos, enterrou seu primeiro filho, Carlos Flávio, que faleceu meses depois de nascer. O poeta não suportou enterrar dois filhos. Foram precisos exatos 12 dias para ele reencontrar sua filha, com quem tinha uma forte ligação. Drummond faleceu de ataque cardíaco no dia 17 de agosto. "Pois de tudo fica um pouco. Fica um pouco de teu queixo no queixo de tua filha. De teu áspero silêncio um pouco ficou", (Resíduo, CDA).
11. Deixou poemas inéditos com sua amante
Drummond foi casado por 62 anos com Dolores Dutra de Morais. Porém, durante 36 anos, Lygia Fernandes, 25 anos mais jovem que o poeta, e Drummond namoraram (como eles preferiam chamar o caso extraconjugal). Se conheceram, em 1951, no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, onde trabalhavam. Eles se viam todos os dias, mesmo depois de o poeta se aposentar. Drummond fez várias poesias para ela e deixou, pelo menos, três livros de poemas inéditos, além de manuscritos de Lição de Coisas e Boitempo. Lygia morreu em 2003 e seus familiares recolheram o material. Até hoje se recusam a divulgá-lo. Um tesouro perdido.
12. Foi tema de documentário de Fernando Sabino
O cronista e romancista Fernando Sabino gravou nas décadas de 60 e 70, junto com diretor de cinema David Neves, uma série de documentários em curta-metragem com grandes nomes da literatura nacional e reuniu no filme Encontro Marcado com o cinema. No curta sobre Drummond, intitulado O Fazendeiro do Ar (1972), o poeta aparece falando sobre sua vida e sobre o seu cotidiano. Ele a caminho do trabalho, em casa com a esposa, conversando com os amigos, lendo dentro do ônibus. Em uma passagem, brinca de se esconder nas pilastras do Edifício Gustavo Capanema, onde ele trabalhou no Ministério da Educação.
13. Virou nota de dinheiro
Era um domingo, dia 15 de janeiro de 1989, quando o então presidente José Sarney anunciou o Plano Verão. Junto com ele, o país ganharia - além de uma inflação que subiu 6% em dois meses - notas de Cruzado Novo, que cortavam três zeros em relação à moeda anterior, o Cruzado. Quem estampava a nota mais baixa, a de 50 cruzados novos, era Drummond (Cecília Meireles aparecia na de 100). De um lado o rosto do poeta, do outro o poema Canção Amiga (do livro Novos Poemas, de 1948): "Eu preparo uma canção/ que faça acordar os homens/ e adormecer as crianças." O Cruzado Novo durou pouco mais de um ano e foi substituído pelo Cruzeiro.

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